Eu gosto de cães, e qualquer pessoa a menos que não tenha coração ia achar imensa graça ao Hobbes: muito fofo, cachorro ainda, muito bem disposto.. enfim, uma ternurinha como podem ver na foto.
Então porque falo dele? Falo porque apenas com seis meses o Hobbes ensinou-me uma grande lição enquanto dona, dog walker e futura treinadora de cães. Como é que é possível? conto-vos a história do Hobbes.
A dona é portuguesa e vive na Suíça actualmente e veio passar uns dias a Portugal. Ligou-me porque precisa de ajuda porque no nosso país é uma chatice porque não se pode levar o cão para lado nenhum.. (esta é aquela parte em que os donos suspiram e pensam: é.. infelizmente é assim!) Muito bem, falámos um bocadinho e marcamos a visita prévia como de costume.
Normalmente nas visitas prévias costumo fazer muitas perguntas, quer para conhecer o cão ou os hábitos que o dono tem com ele. (Veja mais informações sobre visitas prévias e escolha de pet sitter aqui nesta entrevista) Mas desta vez foi diferente.
O Hobbes, como qualquer cão, não traz livro de instruções e lá por ter gene suíço não vinha com etiqueta de controle de qualidade, verificada por um organismo independente. O Hobbes é um cão normal com quatro patas, traquinas, guloso, brincalhão e que puxa na trela. Por essa mesma razão vai à escola como as crianças mas o treino não se fica pela escola: tem de se ser aplicado na rua, sempre e em todos os lugares de forma consistente. Isto para quê? para que o Hobbes aprenda a oferecer alguns comportamentos como por exemplo: sentar nas passadeiras, subir ou descer escadas à ordem e sentar e esperar pelo dono antes de passar numa porta.
Preciosismo dos Suíços para que os cães sejam certinhos como os relógios? Nada disso! Os cães vão para todo o lado e este tipo de treino é fundamental para poder andar com o cão no metro (a subir e descer as escadas) sem fazer ninguém tropeçar no cão. Para poder levar o cão para todo o lado porque ele vai saber estar sem problemas.
O que mais me fascinou é que na visita prévia tudo isto me foi passado em jeito de conversa enquanto passeávamos. Não é imposto aos donos de cães na Suíça: é simplesmente natural que o tenham de fazer. Outra coisa que me fascinou é que a dona não se esquecia de falar com o cão, elogiando-o, dando festas e o que o Hobbes fazia certo: "muuiitoo bem Hobbes!!" sempre em positivo! Até o "Não" era utilizado para interromper o comportamento indesejado do cão (como querer comer algo do chão) mas depois logo a seguir se o Hobbes largava, ou vinha ter com ela: "Lindo! muito bem!" (mais festas!)
Eu sou fã do treino em positivo que foi o único que me fez ver resultados na minha Pixie, mas ainda assim percebi que há muito mais a fazer. Nós infelizmente não estamos programados para o reforço positivo como, pelos vistos, estão os Suíços. Precisamos de aumentar o número de elogios que damos aos nossos cães. Nós humanos temos este problema de assumir que se o cão (ou pessoa) apresenta determinado comportamento que está correcto "não faz mais que a sua obrigação". A grande questão é: mesmo quando fazemos o que é suposto é bom sabermos que era isso que se esperava. Parece óbvio? será para o cão? Embora os cães às vezes entendam tudo, não falam a nossa língua, mas analisam-nos ao milímetro e lêem em nós se gostamos ou não, se ignoramos ou não o que fizeram.
Por isso tudo se aprende de forma boa com elogios e festas. Não há esticões na trela, não há pressa e acima de tudo há pachorra. Mas garanto-vos que o Hobbes, apenas com seis meses já se porta melhor que a minha pixie e muitos dos cães que já passeei!
Um dia dia hei-de fazer treino de cães adaptados às cidades.
Quando for velhinha quero contribuir para um país onde haja mais Dog Friendly Places porque os donos pensaram em treinar os cães para ensinar-lhes como se faz e não apenas corrigirem o que não devem fazer.
Adorei conhecer o Hobbes e a sua dona.
Estou certa que ele vai crescer lindão e bem comportado.
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