21/10/14

O Bem-estar Animal nas Intervenções Assistidas com Animais (IAA)

Fala-se cada vez mais em Intervenções Assistidas com Animais (IAA) e todos nos enternecemos com a capacidade que os animais têm para desbloquear algumas situações, arrancar-nos sorrisos e derreter o nosso coroção.

Mas será que com o aumento sa oferta nesta área temos sempre em conta o bem-estar do animal? Pessoalmente, fico sempre desconfiada porque acho que não é fácil fazer este trabalho e é preciso conhecer bem os animais e respeita-los. Não basta juntar um cão meiguinho e fofinho a um profissional de terapias e temos tudo para fazer Intervenções Assistidas com Animais... Por isso Gostei tanto de ouvir o Pedro Rosa no IV Congresso da PSIanimal, e partilho convosco as respostas às perguntas que lhe fizemos.

Porque é importante ter em consideração o bem-estar do animal em Intervenções Assistidas com Animais (IAA)?

Uma vez que as IAA são, por definição, desenvolvidas com o recurso a um ou mais animais, é fundamental vê-lo(s) para lá da sua utilidade, da sua instrumentalização e dos papéis que possam desempenhar junto das pessoas na concretização de objectivos que, desde logo, são nossos... não deles.

Para que se possa encarar esta prática do ponto de vista ético, importa entender o animal como um ser senciente, isto é, com capacidade de experienciar prazer, mas também ansiedade ou frustração, com necessidades e motivações próprias. É, por isso, da responsabilidade do tutor do animal em contexto de sessões:

 1) Assegurar todas as suas necessidades
 2) Garantir que este está adequadamente treinado e preparado para a prática de IAA
 3) Minimizar quaisquer impactos negativos que possam advir das dinâmicas programadas para as sessões
4) Potenciar experiências positivas ao animal que promovam o seu bem-estar antes, durante e depois das intervenções

O desrespeito pelo bem-estar de um animal de IAA pode ter consequências não só para este, mas também para os restantes intervenientes. O animal pode responder negativamente perante situações de ansiedade e stress, sendo directamente prejudicado, e/ou dirigir o seu comportamento de forma desadequada aos que o rodeiam.

Mais do que uma preocupação, o bem-estar animal nas Intervenções Assistidas, deve ser entendido como um requisito elementar para a sua prática. Só um animal em boa condição física e mental está à altura das exigências dos comandos e comportamentos que lhe são pedidos pelos técnicos/tutores e, consequentemente, ser uma mais-valia na concretização dos seus objectivos. Garantir o bem-estar animal é, por isso também, assegurar a (boa) prática das IAA.  

Como identificar os sinais de stress num cão? O que fazer nestas alturas?

Os sinais de stress num animal podem ser muito diversos e nem sempre perceptíveis a um olhar menos atento ou treinado. No entanto há sinais comuns que o cão nos dá, fáceis e claros de identificar, quando é confrontado com situações que são para si menos confortáveis ou adversas. Pela facilidade de observação, destacaria o desvio do olhar do animal perante situações, pessoas ou objectos, a sua saída espontânea do local onde a acção se possa estar a dar, o arfar excessivo, a vocalização, o coçar e/ou o lamber do nariz.

Para além destas, há muitas outras que podem ser aprofundadas pelos profissionais e entusiastas das IAA através da pesquisa por indicadores comportamentais de stress em cães.
Sinalizados um ou mais comportamentos desta natureza, é importante perceber o que está a causar desconforto ao cão e não forçá-lo a dar respostas a mais comandos nessas condições. É o tutor que deve mudar o comportamento perante o cão e não o contrário.

É fundamental entender as intervenções sobre a perspectiva do animal e considerá-lo com base na sua individualidade, procurando conhecê-lo sempre melhor, e entender os sinais que nos transmite, uma vez que cada cão é um cão com as suas capacidades, limitações e motivações próprias.
Mais do que remediar, diria que é urgente prevenir e, para tal, só um treino adequado às necessidades do animal e especificamente definido para Intervenções Assistidas, aliado a um tutor responsável, pode garantir um cão saudável física e mentalmente.

A oferta aumentou nesta área. Como posso assegurar a escolha de um profissional para realizar uma actividade em segurança?

Uma vez que este tipo de serviço não está ainda enquadrado na Lei portuguesa, nem existe por cá certificação de técnicos para o efeito, a escolha do profissional de IAA pode ser efectivamente um desafio e deve ser naturalmente ponderada e estudada para que se possa usufruir de um trabalho credível, realizado por pessoas sérias e bem formadas para o efeito.

É importante desde logo esclarecer que ser treinador canino não chega e que esse não é mesmo sequer um requisito para o efeito. Importa sim, desde logo, apurar qual o tipo de treino de base tem o cão e o próprio o técnico de IAA. Como tal, deverá ser do conhecimento dos clientes que, infelizmente, existem muitos cães treinados sob métodos aversivos baseados no medo, totalmente desadequados para a prática de IAA - e não só - e para o próprio bem-estar do animal e, por outro lado, existem métodos de treino positivos em que apenas é potenciada a pré-disposição do animal para aprender novos comportamentos, respeitando e condicionando a sua própria motivação sem o forçar a dar quaisquer respostas comportamentais.

Para além do tipo de treino, lembraria que as Intervenções Assistidas por Animais são práticas que incidem fundamentalmente nas áreas da saúde e da educação, pelo que é desde logo pertinente que a pessoa que presta este serviço tenha formação profissional adequada e correspondente ao trabalho que poderá desenvolver, seja no domínio da psicologia, saúde mental, educação, fisioterapia, motricidade, entre outras. Assim, e em função dos objectivos pretendidos, o cliente deverá procurar um profissional competente no domínio em que possa vir a intervir. As formações em Intervenções Assistidas por Animais e as bases de formação anteriormente referidas deverão ser complementares e não valer por si, isoladas.

Outro factor que pode ser um bom indicador da prática de IAA é a presença ou não de um guia, isto é, de um tutor que se dedique apenas ao animal durante as intervenções. Deste modo, o ideal é que exista uma pessoa responsável pelo cliente ou clientes em sessão, e outra que faça a gestão do cão, na concretização de um trabalho personalizado, seguro e adequado às necessidades de todos os intervenientes.

Estes factores podem ajudar na escolha, sendo da responsabilidade do cliente colocar todas as questões que considere pertinentes. Para as pessoas interessadas que procurem profissionais na área deixo por isso a sugestão:


Se não gostar da abordagem e/ou sentir constrangimentos por parte do(s) técnico(s) em responder às suas perguntas sobre tipos de treino, formações relativas às áreas de trabalho, métodos de trabalho uni ou multidisciplinar, bem-estar do cão e quaisquer outras que o(a) preocupem, não se limite a conhecer mais do que um tipo de trabalho. Um bom profissional responderá adequadamente e com segurança às suas dúvidas.


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